domingo, 30 de março de 2008

Jornal Folclore / Abril 2008 - Nota Editorial : O folclore sem peias

Noticiava recentemente certo jornal regional do Ribatejo, que determinado grupo folclórico da sua região se havia representado numa festa de emigrantes lusos que decorreu numa cidade da Holanda. E fez questão de ilustrar a notícia com uma foto do agrupamento, onde aparecem dois componentes, supostamente a dançarem (?) com impetuosa e enérgica determinação uma dança onde o elemento básico são dois desmesurados paus, um dos quais a ser arremessado sobre a cabeça de um dos bailadores, que em destra arte circense aguenta o arremesso. Dizem que é um “fandango com paus”. Mas, provado já foi por especialistas e estudiosos do folclore ribatejano, que em tempo algum, nos bailaricos populares, os fandanguistas ribatejanos ousaram dançar com tão aparente impetuosidade, notória na acção “bailada” mostrada na foto. Consta mesmo que a “dança” já provocou algumas bordoadas, fazendo sérias mossas onde o pau bate no corpo do “adversário”…

Em nome do folclore continua a fazer-se os mais incríveis disparates, até mesmo partindo de grupos responsáveis, como é o caso do grupo visado na notícia, já que se apresenta como membro da Federação do Folclore Português. Tivemos acesso ao relatório de vistoria técnica efectuada ao grupo em causa em Março de 2003, que se refere à fantasiada “dança” da seguinte forma: “Entre estas [as danças] uma há que suscitou viva controvérsia, recomendando-se de forma frontal a sua exclusão do reportório do rancho – o “Fandango de Varapau”. Se o grupo optar por manter a referida dança no seu reportório, obviamente que não seremos favoráveis à sua manutenção como membro efectivo da Federação do Folclore Português”. Do parecer foi dado conhecimento ao grupo em questão e à Federação.

Um pseudo-folclore, espectacular e aliciador de aplausos, não pode continuar a misturar-se com ajuizadas e cautelosas representações tradicionais. Em detrimento de acertadas reproduções folclóricas, fidelizadas à tradição popular, opta-se pelo bonitinho inventado, gerador de frenéticas palmas, que sempre envaidecem quem nele intervém. A humildade da dança folclórica sempre dispensou ovações, porque era mostrada como componente recreativa, e não como um elemento motivador de palmas e aclamações.

Ordem na representação precisa-se. De forma particular nos grupos tidos como responsáveis dentro do movimento folclórico, e que merecem a confiança dos órgãos directores.





Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário
Gracias por su comentário
Thank you for your comment
Merci pour votre commentaire