sábado, 22 de dezembro de 2007

Janeiro 2008 - Nota Editorial : Federação do Folclore Português, que esperanças?

Não queremos ser aves agoirentas. Tão pouco trocar o mel pelo fel. Tão só desejaríamos que a velha máquina enferrujada levasse um desejado e necessário tratamento contra a corrosão. Falamos naturalmente da acção dirigista da Federação do Folclore Português, cuja equipa cessante acaba de ser empossada para novo mandato.

Há três anos anunciou-se “um novo ciclo” na vida da Federação. E foi grande a expectativa que se criou, tendo em conta a confiança depositada nos órgãos eleitos e no respeito pelas declaradas boas intenções. O programa de acção enchia de esperança quantos se ligam ao organismo por força da acção dirigente, fazendo correr a reuniões e assembleias centenas de directores e simples activistas do movimento folclórico. Em cada sessão os ânimos aumentavam, torcendo todos para que as promessas anunciadas fossem cumpridas. A Federação prometia ser um “clube” de membros folclóricos de “elite”, enquanto o apoio técnico se intensificaria na ajuda à representação etnográfica e folclórica, como assim outras cooperações eram oferecidas aos grupos filiados. Muito foi prometido, em nome de um melhor desempenho dos grupos membros da Federação. O movimento folclórico inserido no seio da Federação passaria a ser exemplo para o “outro” movimento, aquele que não integra o organismo de Arcozelo.

As reuniões de formação e informação sucediam-se pelo país. As palmas que os dirigentes ouviram foram muitas, porventura merecidas, quanto mais não fosse pelas palavras de esperança e de alento ao bom trabalho. As boas vontades uniam-se à volta do projecto de um “novo ciclo”. A expectativa, contudo, durou o tempo de um sol de Inverno. Os ânimos de quantos sempre se mantiveram entusiasmados começaram a esfriar. Cabisbaixos, já nem as reuniões repetitivas (quais plágios das antecedentes) encorajavam os voluntariosos folcloristas. As informações repetiam-se. “Andei trezentos quilómetros para ouvir o mesmo”, escutámos a uns desanimados dirigentes no final de uma das programadas assembleias. A casa continuava desarrumada, com desalinhos que começavam logo a partir da soleira da porta.

E assim, iremos concerteza continuar a termos um movimento folclórico com uma imagem destorcida, propícia a referências depreciativas e alusões desdenhosas e humilhantes. Não por culpa das conscienciosas formações, que não necessitando de conselhos, trilham o caminho do decoro e da respeitabilidade pelos valores tradicionais que se propuseram honrar.

Estimaríamos muito que acontecesse (na realidade) o tão propalado “novo ciclo” na vida de Federação no triénio que ora se inicia, e que se verificasse o oposto ao desapontamento ao anterior exercício. Todos decerto levantaríamos as mãos num forte aplauso e numa viva aclamação pelo bom desempenho. E o folclore nacional ganharia.


Manuel João Barbosa
jornalfolclore@gmail.com
www.jornalfolclore.blogspot.com

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