domingo, 2 de dezembro de 2007

Dezembro 2007 - Editorial : As fontes vivas

Generalizaram-se expressões como já não há nada para recolher, ou as fontes há muito secaram. E outras dentro da mesma estirpe. As pesquisas, vai tempo, acabaram no trabalho da maioria dos grupos de folclore, fazendo crer que as memórias vivas já esfumaram no tempo as usanças e costumanças da sua mocidade. Porventura assim será quando uma região etnográfica se desertificada das ditas fontes, que pudessem ainda brotar réstias de referências folclóricas ou da matéria etnográfica que se pretende arrolar. Aqui, todo o cuidado será pouco para não encher o cântaro numa fonte já inquinada.

O trabalho que publicamos no caderno central desta edição diz-nos como um agente cultural – ainda hoje! – pode encher baús de folclore, das cantigas às danças, e das tradições aos mais variados aspectos etnográficos. Tudo aquilo que registámos, em imagens e áudio, como o que vimos e ouvimos, é a prova cabal de naquele lugar o folclore, como a etnografia, moram em cada recanto da localidade, entrados que estamos no século XXI. Impõe-se dizer que o trabalho foi realizado sem qualquer preparação prévia dos intervenientes. Os versos que nos cantarolaram com harmoniosas e agradáveis melodias, como assim os remedeios que nos deixaram de algumas danças, são documentos convincentes de um folclore ainda vivo. E nenhuma voz absoluta poderá contrapor a realidade a que assistimos. Testemunhos como os que nos deixaram a senhora Custódia Maria, com a provecta idade de 83 anos, e a senhora Alexandrina Oliveira, de 70 anos, da Glória do Ribatejo, são a comprovação do facto folclórico ainda activo. E luzente no espírito daquelas anciãs.

Na terra gloriana, retratos assim são como cogumelos em campo de charneca; nascem em cada recanto.


Manuel João Barbosa
jornalfolclore@gmail.com
www.jornalfolclore.blogspot.com

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