sexta-feira, 4 de maio de 2007

Maio 2007 : Nota Editorial - Outra vez os concursos e os prémios


Anda por aí o anúncio de prémios conquistados por um agrupamento português – o “1.º Prémio de Traje e o prémio de Autenticidade”, num determinado Festival Mundial de Folclore recentemente realizado no estrangeiro.

Já aqui dissemos que não deixará de ser descabido, por absurdo, a “conquista” de prémios entre qualquer representação folclórica. E perguntamos: qual o critério que pode levar à classificação de ranchos de folclore quando cada qual representa – distintamente! – uma cultura? Classificar num evento colectivo grupos representativos de diversas regiões (ou de diversos países), será um erro crasso. O acto exige bom senso de quem se atreve a fazer uma classificação, distinguindo grupos tradicionais como bons e menos bons e a atribuir-lhe prémios. Se uma classificação é dada pela espectacularidade das danças (quase sempre isentas de verdade) ou pela garridice dos trajes (mesmo que não representativos), ou ainda pela influência pessoal (ou de outra ordem) dos líderes dos grupos ‘beneficiados’, então o engano é ainda maior.

Temos assim que a apreciação, para efeitos de classificação, de várias representações etnográficas e folclóricas, não faz qualquer sentido quando estão em causa realidades distintas de projectos que diferem, quase sempre, de forma abismal, uns dos outros, tanto no campo da etnografia e do folclore, como nas vertentes cultural e social, influenciadoras da forma de viver, trabalhar e de diversão do povo. Ora, cada representação tradicional, quando envolvida num trabalho sério de estudo da realidade cultural da sua área, tem a importância que tem, e não será por ser mais modesta ou menos espectacular, que é inferior àquela que encanta pelo movimento das danças ou pelo colorido dos trajes.

Entenda-se de uma vez por todas a complexidade que envolve as competições folclóricas, arredadas que estão – completamente! – de qualquer objectivo social ou cultural, mas antes embrenhadas em interesses comerciais, onde a questão financeira conta.

Percebamos isto de uma vez por todas e deixemos de pactuar com manifestações sórdidas de quem não possui sequer competência quanto baste para analisar, muitas vezes, a sua própria cultura.


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