quinta-feira, 31 de maio de 2007

Junho 2007 - Grupo Etnográfico e Cultural da Boavista (Portalegre)

“Eu sou devedor à terra / A terra me está devendo / A terra paga-me em vida / Eu pago à terra em morrendo”. Versos de um cantar alentejano. Uma oração, uma promessa de fé. Uma ligação do homem à sua terra-chão. Um nó que não se desata nunca, apertado pela raiz que entra terra adentro. Terra que é angústia e esperança, terra viva que ouve gritos surdos de mágoa e de desespero. Terra que priva e recompensa, num alimentar de ilusões. Na serenidade dos montados e das searas, na pacatez das aldeias, na melancolia dos montes ou na altivez da pedra – um Alentejo ímpar e particular, uma “charneca rude” cantada por Florbela Espanca e poetizada por José Régio.


O folclore do Alto Alentejo caracteriza-se pela harmonia das melodias, a poesia das cantigas e o timbre distinto das vozes. Canta-se numa evocação à vida, ao amor, ao trabalho. Dançam-se num rodopiar certeiro as “Modas de Saias” ou as “Modas Viradas”, dançadas em coluna e quadrilha. Os trajes denunciam um gosto particular na confecção esmerada das vestes de festa, especialmente, sem desprimor para a indumentária mais habitual. No conjunto, conceitos culturais tradicionais dum povo e duma “charneca rude”, que marcaram terras e gentes.

Assumindo um lugar de destaque na representação tradicional da região de S. Mamede, o Grupo Folclórico e Cultural da Boavista, mantém há quatro décadas o mesmo espírito que presidiu à sua formação em 1967: a salvaguarda e divulgação dos costumes e tradições das gentes serranas de S. Mamede. Um objectivo seguramente prezado e levado a cabo num adequado e prestigiante trabalho de representação etnográfica e folclórica. Os aplausos merecidos das plateias que no País e no estrangeiro se deleitam com as suas actuações, foram reconhecidos oficialmente: a Câmara Municipal de Portalegre galardoou o seu embaixador cultural com a Medalha de Ouro de Mérito Municipal. O Grupo Folclórico da Boavista é ainda “Pessoa Colectiva de Utilidade Pública” desde 26 de Agosto de 1993.


Entrevistas


Joaquim José Rebelo, presidente

Natural de Fronteira, foi em Portalegre que iniciou a vida adulta. Jovem e moço ligou-se ao movimento associativo local. Foi convidado a integrar a direcção da associação do Grupo Folclórico da Boavista. Contudo, o folclore era um tema que lhe era estranho. Mas depressa se apercebeu da grande realidade social e cultural que está afecta às tradições cantadas e bailadas do povo, ao folclore, passando a dispensar dupla afeição e apego à cooperação directiva. Joaquim Rebelo é actualmente o líder incontestado, apoiado numa eficiente e activa equipa de outros dirigentes.

Sempre dispensou alguma simpatia ao folclore?
Curiosamente sentia alguma atracção pelo folclore. Admirava os grupos nas suas actuações, mas não imaginava todo um trabalho que está por detrás das apresentações dos grupos de folclore. Apercebi-me então que é preciso um meticuloso trabalho de pesquisa e recolha dos mais variados motivos que se ligam folclore e às tradições. E só assim um grupo pode assumir-se como representante da cultura popular tradicional da sua terra.
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Dr. José Manuel Gonçalves Polainas, vereador da Cultura e Desporto


Um inusitado surto de desenvolvimento, conhecido na era contemporânea, não beliscou o património histórico de Portalegre, que está cuidado e se preserva. Reduto da nobreza em épocas remotas, a cidade guarda com especial bem-querer quintas e construções senhoriais, como outras edificações, algumas das quais se mantêm inalteráveis à passagem dos séculos, mas outras se restauraram e são hoje um tesouro público.
Do progressivo desenvolvimento da cidade contemporânea, e sem olvidar o passado, fala-nos o vereador da câmara municipal, Dr. José Manuel Polainas.

A preservação do património histórico edificado merece particular atenção do executivo autárquico?
Sem dúvida que sim. Os quadros comunitários de apoio fazem incidir as ajudas sobre a reabilitação urbana e a reestruturação cultural. É bom exemplo disso a recuperação do edifício onde se instalam hoje os serviços camarários. A construção era uma estrutura em ruínas, foi reabilitada, respeitando a traça original daquilo que era nos séculos XVI e XVII – um colégio, uma Igreja e uma fábrica. A cidade vai-se rejuvenescendo, reabilitando os espaços que estão decaídos, que estão cinzentos e que vão passar a estar de branco e amarelo.
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Manuel Braga, ensaiador: “Há coreografias que não devem estar em determinadas músicas e músicas em certas coreografias...”
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